4 de dezembro de 2010

7.2.4 A Dimensão Social e Política da Cultura

As vicissitudes e crises que atravessaram o século vinte até à Segunda Grande Guerra suscitaram  determinadas posturas dos estados face à utilização das manifestações de cultura que iam surgindo. Contrariando ou incentivando tais manifestações e fenómenos, os estados determinadas orientações diferentes ou semelhantes quanto à forma como se apropriaram e rentabilizaram para fins políticos tais demonstrações.  

Este capítulo põe em evidência, formatos de cultura e opções de política cultural que ao longo de duas décadas foram mais comuns entre os diferentes estados europeus e do mundo.

Cultura de massas


A cultura de massas designa um conjunto de manifestações e tendências culturais comuns à maioria da população. A homogeneização dos hábitos e estereótipos partilhados por um número crescente de pessoas nas sociedades ocidentais permitiu a divulgação e difusão de um conjunto de saberes, valores e gostos comuns a um número cada vez maior de pessoas. Tal foi possível também devido a um nível cultural mais elevado da maioria da população que se tornou possível com o ensino de massas na maioria dos países industrializados. Também os media permitiram essa divulgação e estandardização cultural: a imprensa, rádio e  cinema.

Imprensa:  a imprensa tornou-se o principal meio de divulgação científica e cultural. A imprensa escrita por sua vez utiliza uma técnica de frases curtas e vocabulário expressivo com o objectivo de atrair a atenção. Desenvolveu-se assim a imprensa jornalística com tiragens de milhares de exemplares diários em todos os países do mundo e a imprensa como técnica que permitirá através do livro a expansão do saber a todos os níveis. A escrita e a literatura desenvolvem-se em vários géneros dedicados a vários públicos: literatura cor de rosa, para crianças, banda desenhada, policial, ficção cientifica, romance, etc.

A Rádio: a indústria da rádio permitirá a divulgação rápida das notícias e a reportagem em directo. Por não obrigar a saber ler, ao contrário do jornal, será a rádio que merecerá uma maior divulgação e expansão em todos os países como meio de acesso a notícias de toda a parte e até o meio privilegiado de divulgação cultural. Ligado à rádio está o desenvolvimento de vários géneros de música ligeira e popular que através da rádio constituirão um importante negócio a partir dos anos vinte.

Cinema: desenvolvida em França com os irmãos Lumiére teve vários períodos importantes nos seus inícios, relacionados com várias inovações. O cinema sonoro nos anos vinte e o cinema a cores nos anos trinta constituíram momentos de grande importância. Surge o cinema musical que a partir dos anos trinta se torna um género com boa aceitação. O cinema introduz a possibilidade de evasão através da imersão numa realidade alternativa apresentada no ecrã. O cinema foi o principal meio de estandardização de comportamentos e de divulgação de modelos culturais. Vários estados como os EUA utilizam o cinema como meio de sustentar e incentivar a população ou certos sectores para a adesão a tarefas politicamente relevantes como a recuperação da Grande Depressão ou a participação na 2ª Grande Guerra. surgem assim géneros cinematográficos como o cinema histórico, a comédia musical muito divulgados nos anos trinta.

Grandes entretenimentos colectivos 


O cinema, os jornais e a rádio permitem a organização e divulgação de grandes espectáculos de massas como a música ou os espectáculos desportivos. No desporto desenvolve-se muito o futebol, boxe e ciclismo mas também o atletismo, o pólo, a equitação ou o hóquei em campo e em patins.

Síntese

A cultura de massas tem um carácter popular demarcando-se da cultura de elites. Foi criada e desenvolvida pelos mass media que diversificam e aproveitam o seu conteúdo humano produzindo diferentes artefactos culturais, como os jornais, filmes, revistas, livros, etc.
Os bens culturais são estandardizados, com um formato ideal, uma produção planeada de forma a servirem as necessidades dos públicos.
A cultura de massas tem função social: preenche tempos livres, pretende ter carácter formativo e pedagógico, incute valores e nivela comportamentos e atitudes. Divulga ao mesmo tempo modelos culturais socialmente aceites.

Preocupações sociais na literatura e na arte

As dificuldades sentidas nos anos vinte e trinta levaram também a um envolvimento social destas manifestações culturais. A literatura assumiu um papel combativo e de intervenção chamando-se a atenção para a crueldade da guerra e a fatalidade dos destinos humanos envolvidos. No romance, poesia e teatro vários nomes marcaram esta orientação social das manifestações culturais. Brecht procura fazer o público participar e reflectir sobre as problemáticas levantadas na cena teatral.
Huxley denuncia os excessos da sociedade industrial, Steinbeck, Malraux ou Hemingway põem a nú realidades impiedosas da guerra e da miséria humanas através do movimento neo-realismo.

Nas artes decorativas há um regresso a formas figurativas no entanto manipuladas para imprimirem maior expressividade. A pintura neo-realista entra em confronto com o surrealismo e o abstraccionismo e tanto podem servir os objectivos políticos de governos de direita como de esquerda. Na Alemanha Otto Beckman, George Grosz e Otto Dix descrevem a sociedade dos anos vinte marcada pela guerra e a miséria. Também nos EUA tal tendência se desenvolve na época do New Deal com as encomendas feitas por Roosevelt a vários pintores americanos como Thomas Benton. Desenvolveu-se a pintura mural que pode ser por todos apreciada e desfrutada.

Arquitectura - o primeiro funcionalismo


As restrições económicas e as novas tendências da arte e da nova estética vanguardista promoveram na arquitectura mudanças acentuadas na construção dos edifícios públicos e privados. A construção devia ser de boa qualidade mas menos dispendiosa, racional e simplificada.

A Bahaus, nascida na Alemanha em 1919 implantou um conjunto de normas que se tornaram matrizes da arquitectura funcionalista:

  • Construção prática, funcional e eficiente
  • Simplificação das formas e volumes exteriores. 
  • Ausência de elementos decorativos
  • Grandes janelas, janelas contínuas
  • Coberturas planas 
  • Elevação do edifício sobre colunas 
  • Plantas livres
  • Utilização extensiva do vidro, dos elementos metálicos e do cimento. 
Entre os principais arquitectos do século existiram Le Corbusier e Walter Gropius. 

Segundo funcionalismo 



O segundo funcionalismo surge a partir dos anos trinta duma tendência para a humanização do edifício que se pretende mais expressivo e mais criativo do que o primeiro movimento. Surge nos países do norte da Europa,  mas também nos EUA. Aalto, Wright são figuras que marcaram esta segunda fase designada de arquitectura orgânica. Segundo Wright não nega o funcionalismo mas liberta-se dos seus dogmas e clichés racionalistas. Integra-se melhor na paisagem e ambiente, utilizam materiais do ambiente circundante e fundem-se com a natureza.

As preocupações urbanisticas

O desenvolvimento das cidades leva à adopção de múltiplas formas de pensar a vida na cidade. Reflexão sobre a vida na urbe que se realiza em eventos como a Conferência Internacional de Arquitectura Moderna de 1928. Em 1930 debateu-se a habitação social e em 1933 a Cidade Funcionalista. As suas conclusões foram publicadas no documento Carta de Atenas em 1933 orientando o desenvolvimento das grandes cidades e a construção de novas como Brasília.

A arte propagandística


O realismo foi adoptado a URSS como arte acessível às massas. Estaline considera-a necessária e gradualmente os artistas vão sendo agrupados em uniões de criadores de acordo com a sua actividade. O objectivo é criar uma arte oficial útil ao Estado e à Revolução. Surge assim o Realismo Socialista. Adopta os cânones construtivos do racionalismo arquitectónico de feição grandiosa enquanto na nas artes plásticas os temas são históricos e da saga socialista. Também na Alemanha as artes assumem esse papel, tal como em Portugal e outros países de feição autoritária. Uma arquitectura do Estado fortemente conservadora, antimodernista e antivanguardista que pretende fugir à interpretação pessoal e por em evidência o carácter uniformizador e autoritário do Estado. Surge assim uma arquitectura de feição neoclássica, com colunas e pórticos grandiosos.

A politização do desporto 

As manifestações desportivas seguem os mesmos padrões de autoritarismo e propaganda estatal. Cheios de aparato e grandiosidade os espectáculos desportivos pretendiam despertar o orgulho nacionalista e patriótico. Várias manifestações da época são aproveitadas pelo poder para por em evidência a raça e as virtudes do povo como no caso dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936.



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